domingo, setembro 12, 2010

Budapeste



Em Budapeste somos convocados sem dúvida alguma à contemplação, ao dualismo, às velhas questões Europeias...
Não é uma semana entrelaçada com trabalho que nos dá o 'tone' da cidade de Liszt e Bartók, mas passear pelas ruas e avenidas de Peste transposta-nos a Haussmann.
Não imune à repetição do dia-a-dia, minimalizo e atiro sobre duas esculturas fabulosas que se encontram no Museu de História, em Buda; a repetição da história em contrução/destruição, Eros/Tanatos, amor/guerra.
À espera da Pax-Americana...

quarta-feira, agosto 18, 2010

Canyons

Não é muito aconselhável viajar até Las Vegas sem anti-inflamatórios e relaxantes musculares, especialmente se quisermos ir até ao Grand Canyon, de carro, e tivermos uma hérnia discal... O resultado pode ser ficar imóvel numa sala de conferências com o ar condicionado gelido, ou... numa cama de hotel!

Contudo, é uma viagem pela "pré-história" Norte Americana, e ao nú de vários milhares de milhões de anos de história geológica da Terra.

Com visibilidade perfeita podemos aproximar-nos de Vegas e ver pela janela do avião um manto empoeirado e engelhado, de onde, só a cidade emerge; a saber o Deserto do Nevada. Não sei se por ironia, vegas significa várzea em espanhol...

Na verdade não gostei nada de Las Vegas... Não que me dedicasse muito a explorar a cidade, mas a Strip é mesmo só isto, uma Disneyland para adultos, réplicas patuscas de outros sítios/simbolos (Veneza, Egipto, Paris, etc) e um punhado de mexicanos que distribuem fotografias com o contacto de meninas. Depois, como é óbvio, o jogo, e o asfalto, radiador de Verão.

Por isso, o melhor mesmo é ir visitar o Grand Canyon ali mesmo ao lado, no Arizona. É um caminho moroso, umas quatro horas para cada lado. Ao passar a estrada 93 imagina-se a árdua travessia dos que foram para oeste, as temperaturas febris, salteadores de caravanas, coisas Hollywoodescas... Não foi acaso a escolha do Arizona como cenário de bastantes Westerns, que a alguns de nós serviram de aulas de história.

Finalmente o quadro é de cortar a respiração! E não tem moldura, estende-se a perder de vista... São camadas e camadas de resistos postos a descoberto pelo Colorado, que ainda teima a correr lá no fundo. É como se alguém tivesse escavado um sulco num "Mil-folhas" e agora pudessemos, camada a camada, deliciar-nos com o olhar... Dois ou três Índios, outrora donos deste território passeiam-se...

E é assim, tal como o Colorado rasga e põe a descoberto a memória geológica, nós registamos os nossos tempos e os tempos dos outros... A exatidão? Não sei, agora parece que falamos na "Aceleração da história"...

O fim do dia, em Las Vegas foi a jantar num qualquer restaurante Mexicano, atravessar o Casino do hotel com as suas "Poker faces", e finalmente dormir. Uns ibuprofenos e uma cama ajudaram-me a aguentar isto, e umas reuniões.

terça-feira, abril 20, 2010

Mare Nostrum

Quem atravessa a Eurasia e entra pela Indochina para chegar a Bangkok, arrisca-se a ter que na volta tomar caminhos mais por sul. Assim aconteceu na minha última ida à "A cidade dos anjos, a grande cidade, a cidade que é jóia eterna, a cidade inabalável do deus Indra, a grande capital do mundo ornada com nove preciosas gemas, a cidade feliz, Palácio Real enorme em abundância que se assemelha à morada celestial onde reina o deus reencarnado, uma cidade dada por Indra e construída por Vishnukam" (...)
Já tinha ouvido dizer que o bater de asas de uma borboleta nas Américas poderia provocar uma chuvada na Europa (...) mas como agora é sabido de todos, um vulcão na Islândia pode provocar um alvoroço nos aeroportos numa extensão bem maior.
Quando não se está num lugar e não conhecemos as pessoas e costumes desse lugar, as notícias que nos chegam dedicam-se a oferecer-nos à fantasia encenações daquilo que realmente se passa nesse mesmo lugar. Nesse palco imaginário, num ciclorama de fundo, passam imagens da TV e jornais, que ampliados e distorcidos fornecem material ao drama em cena. Falo, do que se passou (e possívelmente passa), em Bangkok. Os senhores das "camisas vermelhas", apoiantes do governante anterior, exigem que o primeiro ministro convoque o mais rápido possível novas eleições. Penso que se trata de uma forma de luta um pouco já antiga (e de traços equivalentes), que já em 2007 tive oportunidade de presenciar.
Para ser sincero, não gosto de Bangkok, não gosto do clima quente e húmido, não gosto das ruas com insectos rastejantes apressados entre as multidões, nem do lixo amontoado em frente às montras das lojas. Estes foram os motivos que desta vez me levaram a sair pouco do hotel, e ser mais espectador de relatos de encontros menos agradáveis dos meus colegas com manifestações, que, ao que se sabe ainda resultaram na perda de vidas.
O mais interessante e empolgante desta viagem foi, sem dúvida, a volta. Deslocava-me a caminho da porta de embarque do voo da Air France que me levaria a Paris, e daí a Lisboa, atento aos paineis electronicos, quando para meu desencanto vejo "AF173 Bangkok - Paris Cancelled". Foram dois dias de ponderação entre o ficar e o partir, entrelaçados por notícias vulcânicas menos optimistas e sonos e refeições desencontradas. Uns partiam, outros esperavam, outros choravam (...) Ao segundo dia à tarde, desenhou-se a rota: BKK-Qatar-Tunis. É engraçado, penso que só de ficar mais perto de Portugal, me sentia menos desamparado. Da Tunisia para Portugal não tinha conseguido reservar voo na internet. Ora essa, que importa? África, o sítio de onde todos viemos, era o único (e primordial) continente onde ainda não estivera. Mas finalmente o caminho ficou fechado, Bangkok-Qatar-Tunisia-Marrocos-Portugal, fechado à volta deste "Mare Nostrum"...